Veja temas que podem cair na redação da segunda fase da Fuvest

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Neste fim de semana, começa a segunda fase do vestibular da Universidade de São Paulo (USP). Os aprovados na primeira fase realizarão novas provas nos dias 8 e 9 de janeiro e terão que responder a questões dissertativas sobre disciplinas relacionadas à carreira escolhida pelo estudante, além de questões de português e uma redação dissertativa. O Estadão conversou com especialistas dos cursinhos Etapa e Anglo e reuniu aqui dicas para fazer boas provas.

Como funciona a segunda fase da Fuvest?

No 1º dia de prova da segunda fase, serão 10 questões de português (interpretação de texto, gramática e literatura) e uma redação. No 2º dia, 12 questões de disciplinas relacionadas à carreira escolhida pelo candidato. Serão quatro horas para cada dia de prova.

“A Fuvest é um vestibular que preza pela tradição, pela qualidade das questões e principalmente pela ampla abordagem de conteúdos”, diz o coordenador do Curso Anglo, Madson Molina.

A depender da carreira, podem ser selecionadas duas a quatro disciplinas para as questões específicas do segundo dia de prova. Se forem duas matérias, serão seis questões sobre cada. Se forem três, quatro questões sobre cada. E se forem quatro, três questões sobre cada.

As questões são dissertativas: devem ser respondidas por escrito. Além disso, todas têm mais de uma pergunta que deve ser respondida em espaço delimitado. Por isso, é importante medir bem o tamanho da resposta. A redação também exige o formato dissertação.

Quem escolheu as carreiras de artes visuais, artes cênicas e música terá uma terceira prova, de habilidades específicas. Elas ocorrerão entre os dias 11 e 14 de janeiro.

Como se preparar para a prova?

É importante se preparar com antecedência. O ideal é checar o endereço e como chegar ao local de prova um dia antes. Será permitido levar alimentos leves, água, caneta azul de tubo transparente, lápis, borracha, apontador e régua transparente.

João Pitoscio Filho, coordenador pedagógico do Etapa, aconselha a manter a rotina de estudos nessa fase, pois isso ajuda a controlar a ansiedade. “Uma boa dica é analisar as provas dos últimos anos. Elas podem dar indicação do que está aparecendo mais na 2ª fase”, diz.

Para o coordenador, a segunda fase da Fuvest costuma ser bastante exigente e demanda a atenção do candidato. “No entanto, em praticamente todas as questões, haverá um item mais simples ou mais direto. Desse modo, focar nesses itens ao começar a prova dará mais confiança aos estudantes para resolver, posteriormente, os tópicos mais desafiadores”, diz.

“Como todas as questões são analítico-expositivas, os candidatos precisam ter em mente que as respostas devem ser escritas de forma simples, direta, objetiva e correta. O espaço destinado às respostas é, em geral, pequeno. Assim, elaborar grandes discursos em um dos itens pode impedir que os demais sejam respondidos por falta de espaço na folha”, complementa.

O que estudar agora? Quais temas devem cair?

Os estudos para a segunda fase devem ser focados em português e nas disciplinas específicas da carreira escolhida pelo candidato.

Segundo os coordenadores do Etapa e do Anglo, os temas mais cobrados por disciplina nas últimas provas da segunda fase – e que podem se repetir nesta – são:

  • Química: Físico-Química e Química Geral, Orgânica e Inorgânica;
  • Física: Mecânica, Eletricidade, Cinemática, Física Dinâmica e Termofísica;
  • Biologia: Ecologia, Genética e Zoofisiologia;
  • Matemática: Funções, Trigonometria e Geometria Plana e Espacial;
  • Geografia: Geografia Física Geral, Saúde Ambiental e Geografia Humana;
  • História: Brasil Colônia, Brasil Republicano, Segundo Reinado brasileiro, República Oligárquica do Brasil, História Mundial Moderna, Mundo Contemporâneo e Antiguidade Clássica;
  • Português: Literatura, Interpretação de texto, Gramática e Inglês (compreensão de texto e vocabulário).

Molina diz que, como exemplo, na prova de Química, uma questão pode apresentar uma indústria alimentícia com um processo industrial específico e pedir para que o candidato identifique algumas transformações químicas, reações ou métodos de separação de misturas que acontecem neste processo.

Em Geografia, o coordenador aponta que pode haver um texto introdutório falado a respeito de poluição e outros tipos de impactos ambientais que geram mudanças climáticas. “Pode pedir para o vestibulando identificar quais as causas desses impactos e de que maneiras eles podem ser minimizados, pedindo propostas de intervenção”, diz.

Em Física, é comum ter textos relacionados a novas tecnologias. Neste ano, uma aposta do coordenador são imagens do James Webb, um telescópio que utiliza captação infravermelha. “Isso está relacionado ao efeito doppler. Eventualmente, a questão pode apresentar um texto e pedir para o candidato identificar e quantificar esse fenômeno, apresentando a expressão que determina a frequência aparente e indicando outras situações em que o efeito doppler também acontece”, diz.

Vale lembrar que, em Literatura, a Fuvest cobra conhecimentos sobre nove obras literárias específicas, consideradas leituras obrigatórias para o vestibular. São elas:

  • Poemas Escolhidos, de Gregório de Matos;
  • Quincas Borba, de Machado de Assis;
  • Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade;
  • Angústia, de Graciliano Ramos;
  • Mensagem, de Fernando Pessoa;
  • Terra Sonâmbula, de Mia Couto;
  • Campo Geral, de Guimarães Rosa;
  • Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles;
  • Nove Noites, de Bernardo Carvalho.

Caem perguntas multidisciplinares na segunda fase da Fuvest?

Na 1ª fase da Fuvest 2023, havia perguntas multidisciplinares, ou seja, que exigiam conhecimentos de mais de uma disciplina para serem respondidas.

João Pitoscio Filho, coordenador pedagógico do Etapa, diz que “de modo geral, a 2ª fase da Fuvest trata de temas mais restritos aos assuntos estudados em cada uma das disciplinas separadamente”. No entanto, não se pode descartar a possibilidade de que temas interdisciplinares apareçam na segunda fase, principalmente os que apresentem uma temática mais atual.

Como se preparar para a redação?

Para Wellington Borges Costa, coordenador de Redação do Etapa, a principal dica é fazer uma leitura atenta dos textos de apoio. “Apenas a frase temática não é suficiente para garantir uma abordagem completa do tema”, aconselha Wellington.

“São os textos de apoio que vão apontar os diversos aspectos para serem contemplados no tema e também podem servir de parâmetro para a divisão dos parágrafos e para as diversas abordagens da redação”, complementa.

Outra dica é trazer certa dose de ousadia e criatividade no título. “Diferentemente de outros vestibulares, a proposta de redação da Fuvest exige que o candidato escreva um título. A orientação é que esse título seja a síntese do tema e também seja atraente para o leitor. O título não precisa fazer sentido logo de cara, mas deve ser explicado até o fim do texto”, diz.

Outros recursos que também podem contribuir para a redação são citações de dados atuais e jornalísticos, menções a fatos históricos e suas relações com a atualidade, ou mesmo citações de frases de outros autores que fazem relação com o tema.

“Se o tema é muito abstrato, é melhor materializar com exemplos concretos para o leitor. O importante é que tudo isso revele traços da personalidade do autor”, finaliza.

Possíveis temas da redação:

Wellington Costa explica que a Fuvest tende a apresentar temas de redação mais universais, atemporais e filosóficos. Por isso, segundo ele, pode abordar, por exemplo, questões sobre a verdade no mundo contemporâneo, ou mesmo a relação entre política e religião.

“A primeira fase deste ano foi um pouco surpreendente, com mais questões politizadas do que antes, se aproximando muito do vestibular da Unicamp”, diz Felipe Leal, professor de redação do Anglo.

Para Leal, alguns dos possíveis temas são o papel da mulher negra na sociedade, que já caiu na primeira fase, e o futuro do trabalho, tendo em vista o aumento da informalidade e dos modelos de trabalho home office.

Outros possíveis temas de redação:

Crise da democracia representativa. “É uma questão que tem sido bastante discutida no Brasil e no mundo. Tem a ver com as pessoas votarem e depois não se sentirem representadas; com crises em instituições da democracia, como a imprensa; crises econômicas que vêm ocorrendo desde 2008; e destituições de presidentes na América Latina e no mundo”, diz Felipe Leal. “Uma referência interessante em um tema como esse é Habermas, com a ideia de democracia deliberativa”, complementa o professor.

Crescimento do neonazismo, utilizando como gancho os atentados recentes, como o que aconteceu recentemente em Espírito Santo. “Existem várias referências possíveis, entre elas uma frase de Adorno que eu gosto muito, em que ele diz que ‘o papel da educação é Auschwitz não se repita'”, diz Felipe, lembrando que é possível falar do papel da internet e da educação em relação ao problema, abrindo margem para uma discussão sobre liberdade de expressão.

Pensamento positivo e positividade tóxica, abordado o discurso de coaching nas redes sociais, a exigência da hiper produtividade, a responsabilização individual e o pensamento mágico, em que querer é poder. “É possível relacionar com ‘A Sociedade do Cansaço’, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han”, comenta Felipe.

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